Conscientização sobre a violência psicológica: mulheres fortes enfrentam corações feridos. Reconhecer-se como vítima de abuso é um desafio doloroso, mas o primeiro passo para a cura.
Em minha prática clínica, tenho observado que do abuso psicológico e emocional é um tema recorrente entre as pacientes que buscam ajuda diante de seus relacionamentos. No entanto, percebo uma grande falta de compreensão sobre se estão, de fato, vivenciando essa situação. Reconhecer-se como vítima de abuso pode ser um processo doloroso e desafiador, levando as mulheres a um lugar de profunda angústia e necessidade de enfrentamento.
Muitas vezes, encontro mulheres fortes, dedicadas e determinadas, dispostas a lutar incansavelmente por um relacionamento que acreditam que possa ser salvo, que possa evoluir. No entanto, o que muitas não percebem é o preço que pagam por esse esforço. É importante ressaltar que informar, dar espaço para que essas mulheres se expressem e ouvi-las são passos fundamentais. Contudo, gostaria que esse espaço fosse também um ambiente acolhedor e seguro, onde elas se sintam confortáveis para compartilhar suas dores e encontrar apoio.
A violência psicológica contra a mulher, conforme definida pela Lei Maria da Penha, é uma forma de agressão emocional que pode causar danos profundos à saúde mental e emocional da vítima. Esta forma de violência se manifesta através de comportamentos que têm como objetivo limitar, controlar ou manipular a mulher, resultando em prejuízos à sua autoestima, saúde psicológica e liberdade de escolha.
É importante ressaltar que esses comportamentos abusivos podem desencadear consequências ainda mais graves quando considerados em conjunto com os padrões de apego inseguro. Segundo a teoria do apego, proposta por Bowlby, as experiências vivenciadas na infância moldam nossos padrões de apego, influenciando nossa capacidade de regular emoções e lidar com situações de estresse na vida adulta.
Assim, mulheres que cresceram em ambientes onde não receberam cuidados consistentes e afeto adequado podem desenvolver apegos inseguros, tornando-as mais vulneráveis a manipulações e abusos emocionais. A constante invalidação de suas emoções, humilhações públicas e ameaças por parte do agressor podem reforçar ainda mais esses padrões, levando à internalização da culpa e à sensação de desamparo.
Muitas vezes, as vítimas de violência psicológica acabam por se desculpar ou minimizar as agressões, na tentativa de evitar conflitos ou reprimir suas próprias emoções, o que apenas reforça sua fragilidade emocional. Esse ciclo de abuso e submissão pode perpetuar-se, tornando ainda mais difícil para a vítima buscar ajuda ou romper com o relacionamento abusivo.
A violência psicológica é uma grave violação dos direitos humanos e uma forma de violência de gênero que precisa ser combatida e denunciada. É fundamental que a sociedade e as instituições estejam atentas a esses comportamentos abusivos e ofereçam apoio às vítimas, garantindo-lhes proteção e acesso à justiça. A conscientização sobre os diferentes tipos de violência contra a mulher, incluindo a violência psicológica, é essencial para promover uma cultura de respeito, igualdade e dignidade para todas as mulheres.
Que cada mulher que busca ajuda saiba que não está sozinha e que merece ser tratada com gentileza, respeito e compaixão em sua jornada rumo ao bem-estar emocional e à autodescoberta.
Neste Dia das Mulheres, é importante lembrarmos que todas as mulheres merecem viver livres de qualquer forma de violência e opressão. É tempo de oferecer nosso apoio incondicional às vítimas de violência psicológica e criar um ambiente onde todas as mulheres se sintam valorizadas, respeitadas e empoderadas. Como reflexão, trazemos as palavras de Audre Lorde: 'Cuidar de mim é não me tornar indiferente às dores do mundo, mas encontrar nelas uma energia para a transformação'. Que possamos unir forças na luta por um mundo mais justo e igualitário para todas as mulheres.
Um sincero abraço,
Mariana Branco
Psicóloga Clínica e Hospitalar
CRP:06/118246
Recursos de Ajuda
Ligue 180;
Aplicativo Direitos Humanos Brasil;
Delegacia da Mulher;
Defensoria Pública;
Casa Abrigo;
Casa da Mulher Brasileira;
Serviços de Assistência Social (CRAS e CREAS)
Referências :
Audre Lorde
Bowlby, J. Formação e rompimento de laços afetivos. Trad Álvaro Cabral. São Paulo: Martins Fontes, 1997.
Pesquisa Nacional de Violência contra a Mulher, divulgada pelo Instituto DataSenado em parceria com o Observatório da Mulher contra a Violência (OMV),
Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania